Passei cinco dias na Ilha de Tinharé onde não tinham carros de passeio e pra se locomover era a pé, bicicleta ou de lancha quando a maré subia. Todo um ritmo diferente pra quem chega lá com uma bela variedade de bares e restaurantes com suas músicas ao vivo e o café da manhã iniciando oito horas da manhã.
Sim.
Respira, sei que você também teve uma mini sensação de estar perdendo algo, de pensar que teria menos horas de praia por isso. Admito que até falei com a pousada que onde hospeda que tinha passeio às 9h com a Proativa, no que recebi uma resposta “mas calme, 9h eles vem te buscar aqui. Tem tempo” (e aqui um grande parênteses que isso é na visão de quem está a passeio, a galera daqui trabalha muito! Tem loja que passei antes das 9h e estava aberta, depois das 22h também. Mas com quem falei, me confirmou que na hora de parar não ficam que nem eu inventando coisa não e respiram).
Mesmo já estando há quase uma semana na Bahia e jurando que tinha desacelerado, reparei que precisava colocar o pé ainda mais no freio. Lembrei que no caminho tinha ouvido o episódio Em defesa do descanso do Floatvibes onde eles falam sobre essa importância de sentirmos tédio de vez em quando.
Em um dos dias aqui na ilha fui pra Gamboa, que pra chegar a pé precisa que a maré esteja baixa pra fazer essa caminhada pelas piscinas naturais e depois chegar nessa praia de encontro do rio com o mar (foi minha praia preferido do passeio todo, sem dúvidas).
Na minha cabeça eu ia passar a manhã, tomar um banho de mar, beber muita água, ler o livro e voltar pra almoçar em Morro de São Paulo.
Mas ai comecei a conversar com a Clara que trabalha ali no restaurante Pedra do Sol, ai descobri que o pastel era feito na hora e que o Lucas fazia inclusive a massa, ai a maré já tinha subido e precisaria pegar o barco pra voltar, ai o livro estava bom, ai quando vi passei mais de 8h lá e voltei só depois do pôr do sol pro hotel.
O que fiz nesse meio tempo além de olhar pro mar, ler, beber (muita) água, entrar no mar, comer pastel e conversar? Nada! Até porque repare que isso ai que escrevi antes tem uma sequência de ações e muito espaço pra só curtir.
Nem de retocar o protetor lembrei! Na minha cabeça era só retocar das tatuagens pra não estourarem, até que cheguei e reparei como estava vermelha.
No dia seguinte consegui terminar dois trabalhos da faculdade, sentar no restaurante do hotel com uma garrafa de vinho e escrever esse texto com a trilha sonora do Rosalu que do nada cantou até Castello Branco.
E muito se fala sobre o tal do ócio criativo e dessa necessidade de dar um tempo né? Mas na prática a gente fica arrumando cada vez mais coisas pra fazer.
No início de outubro encontrei com minha amiga baiana e falei o tanto de coisas que estava fazendo, o tanto de viagens e todos mil planos pra ocupar aqueles espaços em branco, toda orgulhosa. Ela respondeu que estava pensando em voltar pro inglês, mas depois do espanhol - não por falta de tempo, mas por querer ter foco mesmo e conseguir respirar.
E agora que tive essa semana com tempo, de chegar do passeio e sentar no restaurante do hotel pra ficar curtindo a música ao vivo e vendo o movimento na praça, dá pra perceber essa importância pra descanso do cérebro - que esquecemos que é um músculo e que também precisa do seu dia livre (escrever aqui não conta como exercício haha, foram horas sentada ali e um bom tempo vendo o cachorro que estava bem folgado dormindo no meio da praça).
O tal livro que tenho lido ainda é Grande Magia da Elisabeth Gilbert, fala sobre criatividade e que caiu como uma luva nessas férias de retomar a escrita como uma forma de prazer. Até puxando aqui um dos muitos trechos que destaquei dela sobre essa vida criativa que ela explica que está “falando de viver uma vida mais motivada pela curiosidade do que pelo medo”. E ouso complementar que mais pela curiosidade do que pela rotina.
Porque se pensarmos é muito fácil entrar no piloto automático, fazer sempre ali as mesmas coisas, seguir uma rotina super controlada E reclamar da vida. É chato mas é fácil, não precisa de grande movimento.
Ana Suy bem disse nesse podcast que é preciso muita energia pra ser realmente passivo, pra soltar o controle e se deixar ser levada pela vida e o que sua acontecendo ali. Ainda mais pra quem está acostumada com esse fluxo insano de São Paulo, que a gente se sente como o camarão que dorme e a onda vai levar (alô Zeca Pagodinho).
Então já deixando aqui meu mapa pra quando voltar pro trabalho e faculdade e cursos e rolês infinitos, como curtir a preguiça em SP como minhas novas amizades baianas, que quando param realmente é pra respirar:
Comendo!
Já tinham me falado que em SP nosso grande diferencial são as comidas, então dois lugares incríveis que sentamos e esquecemos a hora passar:
Café artigas, que fica no jardim da Casa Artigas e que se você vai de sábado pega o buffet de feijoada que é sensacional.
Hospedaria na Móoca, tem uma filial também no Itaim mas gosto mais da móoca que você vai pegar uma fila e já ficar um tempo ali sentada esperando a mesa com os petiscos mais deliciosos.
Parques
Temos muitos prédios, mas também estamos bem servidos de parques. Ai deixo aqui essa dica aberta pra você escolher o mais próximo, mandar mensagem naquele grupo de amigues e marcar um encontrão pra ficar ali sentades no gramado como se não existisse amanhã.
E um porfavorzão, não leve caixinha de som alto. Ela só deve existir dentro de casa ou festas.
Massagens
Sim, capitalismo venceu aqui porque existem lugares só pra isso. Mas já pegou um day spa? Que chama day mas são no máximo três horas que dão conta de desligar o corpo pra um dia inteiro.
E nessa tenho uma super indicação da Bruna Lenko. Durante a sessão você vai sentir mesmo que ela está desmontando teu corpo inteiro, mas confia que na hora que sair estará muito inteira.
Ouvindo música boa
E o boa aqui é bem subjetivo no que você curte mesmo.
Eu sou a pessoa que passa o dia ouvindo música em casa, trabalho com a caixinha de som por perto e tenho várias playlists pra momentos diversos - inclusive as pra quando quero só colocar o fone e ficar ali de olhos fechados ouvindo a música.
Nesses últimos tempos São Paulo está com umas programações e lugares com mais foco em realmente ouvir música. Nessa edição da Espiral a Lalai fala sobre alguns bares. Fora esses tem as programações itinerantes como o Tranquilo que toda segunda tem apresentações lindas e o Sofar Sounds que tem em várias cidades pelo mundo.
Almoços e jantares com amigues em casa
Alô minha galera, vamos cozinhar juntes? haha
Mas sério, nada melhor do que passar um tempo com as pessoas queridas em volta da cozinha. Se você não é uma super cozinheira como eu, vale comprar no dia anterior e colocar no forno um pouco antes do pessoal chegar - abre um vinho ali no meio tempo e diz que foi muito difícil fazer aquela massa artesanal.
Exercício de manhã, almoço com vinho e cancelar tudo à tarde
Esse é auto explicativo e encerra essa edição quase como mandatório: faça isso em um final de semana e depois fique no sofá à tarde.
Tua preguiça agradece.