A treta é sobre território e nós aprendemos a fazer puxadinhos para conseguir uma vida quase digna. Sempre, sempre, sempre.
Existem os puxadinhos reais feitos com reboco à mostra na casa dos pais ou puxadinhos metafóricos, divididos em muitos subtipos.
Destaques:
a) Puxadinhos trabalhistas de ser PJ nos direitos, CLT nos costumes e ainda falar que tá tudo bem;
b) puxadinhos blasé de performar frieza enquanto se pensa obsessivamente que Robespierre guilhotinou foi é pouco;
c) puxadinho retórico de afirmar ser privilegiado porque tem gente pior ainda — e se for no caso de ser alguém que já esteja na pior, lembrar que tem os mortos de fome;
d) puxadinho do pagar aluguel exorbitante por uma boa localização e azulejos nojentos, dentre outros.
Enquanto os puxadinhos reais dependem da autoconstrução e camaradagem para bater uma laje, subir um muro ou ligar um gato, os puxadinhos metafóricos demandam resistência e sangue frio para levar a vida.
Se não fosse pelo "cabeça fria, coração quente", que inclusive já falei aqui, eu já teria subido no alto do prédio do Banespa e me atirado lá esperando que o Donkey Kong me salvasse. Ou o Supla.
Preciso de um pouco de graça para enfrentar a vilania, que inclui terrorismo de Estado, medo de ser vítima da gang da bike (formada por crianças e adolescentes) e outros horrores da cidade.
Situações irrealizáveis como a do macaco equilibrista e do punk filho da prefeita me ajudam no entretenimento e, assim, a tornar a vida mais leve.
e como a gente adere ao puxadinho retórico, né? ele é tipo uma boia em que a gente se agarra pra ir vivendo, principalmente quando estamos morando no puxadinho trabalhista. eu já estive muito tempo nessa situação e pensei milhares de vezes que tinha gente bem pior.