Todos os meus livros nasceram porque eu queria escrever grandes histórias para gente como nós. Histórias onde a gente fosse amado e acolhido, histórias que mostrassem que somos imperfeitos, mas também podemos ser super-heróis. É que eu gosto de ver gente como eu existindo dos jeitos mais diversos e malucos possíveis.
Talvez o auge desse desejo tenha sido no fim de 2019 quando decidi escrever Clichês em rosa, roxo e azul. Naquela época, eu queria criar histórias onde o máximo possível de pessoas bissexuais pudessem se ver representadas. Então, lancei um conto por mês em 2020 (sim, no meio da pandemia) de forma digital. E depois, em 2021, esses contos ganharam uma versão física pelo Se Liga Editorial em três livros (um rosa, um roxo e um azul) que formam a bandeira bi.
Escrever esse e-mail está me fazendo pensar na razão de essas histórias existirem. Acho que todos os meus livros foram escritos porque vivi anos da minha vida sem conseguir entender quem eu era. Quis escrever as histórias que a Maria de 16 anos queria e precisava ter lido.
Você entende o que é nunca se ver DE VERDADE nos lugares, não entende? Ver uma série e aqueles personagens não fazerem sentido para você. Ver um livro e pensar “poxa, mas e se?”. Olhar as representações que existem de bissexuais e pensar “mas eu não sou assim”.
Acho que é por isso que criei o Henrique como um bissexual tentando entender a própria sexualidade, porque demorei pra entender a minha. E fiz um livro sobre adolescentes bissexuais com superpoderes ouvindo vozes vindas de uma parede, pois muitas vezes eu precisava viver dentro da minha própria cabeça porque não conseguia me encaixar no mundo lá fora.
Eu queria mostrar que corpos além do padrão magro, branco e cisgênero merecem amor, porque eu mereço amor, a Thaís merece amor. É por isso que tantos livros meus têm personagens gordos, trans e negros.
Mas também não foi só por mim e pelos meus. Eu também queria escrever para outras pessoas fora do padrão espalhadas por aí, pessoas que quase nunca têm espaço. É por isso que constantemente escrevo sobre pessoas idosas amando e sendo amadas independente de gênero. Por isso que sempre tento mostrar que todo tipo de amor é válido, seja ele entre três pessoas, entre pessoas idosas, entre pessoas de gêneros diferentes ou entre pessoas do mesmo gênero. Ou só… mostrar que a gente pode fazer amigos, conhecer outras dimensões, encontrar a filha do Papai Noel e ter superpoderes.
Enfim, minha busca e meu objetivo sempre foi mostrar que a gente existe e existe de jeitos diversos. E eu sei que, mesmo tendo escrito cerca de 30 histórias diferentes (juro), isso não consegue expressar nem 1% do que nós somos.
E acho que o livro que mais representa isso, que mais demonstra a minha habilidade de contar histórias diversas para pessoas diversas, é Clichês em rosa, roxo e azul.
Como eu falei no começo do e-mail, os 12 contos da coleção foram lançados digitalmente em 2020 e em versão física no ano seguinte. E essas histórias ficaram disponíveis por muitos anos, até esgotarem na bienal do ano passado e eu pedir para a editora não imprimir novos exemplares.
Eu fiz isso porque, excluindo alguns motivos que não merecem espaço nesse e-mail, alguns contos originais ganharam vida própria. É o que aconteceu com as histórias do Henrique, Mas… e se? e As razões de Henrique, que ganharam uma versão completa com mais de 400 páginas em Mas… e se ele ficar?, com Emma, Cobra e a criatura da parede, que também ganhou uma versão completa (Emma, Cobra e a garota de outra dimensão) e foi publicado pela Galera Record, e com Um corpo de verão que ganhou até livro físico.
Com a saída desses contos, acabamos perdendo um guerreiro, o conto final, Um Papai Noel de outro planeta, que fazia uma viagem entre todos os contos da coleção e acabou perdendo completamente o sentido.
Com isso, Clichês em rosa, roxo e azul perdeu metade dos contos originais, ficando apenas com:
Espero que não perca
Amor de janela
Outra dimensão para nós dois
Estrela e a Flor
Azeitonas
Acho que eu fiz uma música
Não fazia sentido lançar a coleção pela metade, ou tô errada?
Então resolvi escrever 6 novos contos (sim, teremos 6 histórias inéditas, originais, bissexuais, icônicas…) e lançar uma versão 1.5. de Clichês em rosa, roxo e azul (sei que muita gente pediu por isso).
Os livros, que ainda serão 3, um rosa, um roxo e um azul e formarão a bandeira bi na estante, serão relançados através de um financiamento coletivo no Catarse, que vai abrir daqui a um mês, no dia 30 de abril.
Você já pode aproveitar para juntar a grana ou reservar limite no seu cartão. A recompensa com os 3 livros + outro livro (tem um easter egg contando que livro é em algum lugar nesse e-mail) deve ficar na faixa dos R$200.
Nós só estamos republicando esses livros porque sei o quanto eles foram e são importantes para muita gente e porque acredito que você pode se ver um pouquinho nessas histórias. Ver quem você ama nelas. E perceber que, caramba, a gente não tá sozinho!
Agora voltamos ao subtítulo desse e-mail: você acredita que Clichês em rosa, roxo e azul merece uma chance de renascer, diferente, sim, mas ainda mais lindo?
Acredita que grandes histórias merecem uma segunda chance?
Então entra no grupo do Clube da Maria para pirar com a gente enquanto espera a abertura do financiamento coletivo.
E fica de olho porque, já no próximo e-mail, vou mandar a primeira parte de um conto inédito que fará parte dos novos Clichês.
Até logo,
Maria
ansiosa demais aaaaaaa
Já tô querendo colocar esses livros na minha coleção ^^