Ano passado vi um vídeo em que a atriz Octavia Spencer explica a prática de escolher uma palavra para guiá-la pelo ano que está por vir. Uma vez foi upgrade e a de 2022 foi adventure.
Então, diante de uma situação em que precisa tomar uma decisão, ela lembra da palavra e segue por esse caminho:
Aquela lista de metas feita na virada do ano geralmente fica esquecida no fundo da gaveta. Já comentei aqui a dimensão (negativa) que as listas passaram a ter na minha vida, então achei essa prática muito simples, poderosa e fácil de ser mantida.
Mas veja que não é uma palavra aleatória. É um valor. Algo em que você acredita e que deve (ou deveria) nortear sua vida. Mas quantas vezes passamos por cima dos nosso valores? Ou seja, passamos por cima de nós mesmos, mesmo que em prol de outra pessoa.
Muitos de nós crescemos numa sociedade em que a obrigação em fazer pelo outro era (e é) um imperativo e a culpa é o que você devia sentir caso não o fizesse. Acontece que nós somos a pessoa mais importante das nossas vidas e devíamos fazer primeiro por nós e então, pelos outros.
Não digo isso sob uma perspectiva egoísta (outra sombra da culpa). Afinal, se você é uma pessoa que se cuida, se escuta e respeita seus limites e vontades, naturalmente será uma pessoa mais empática e compassiva com os outros ao seu redor e claro, fará o que estiver ao seu alcance.
Mas veja, o que estiver ao seu alcance.
A crença mais prejudicial que tenho percebido ultimamente é a de “tenho que” porque “o que vão pensar de mim” e “eu sou uma boa pessoa”.
Num mundo cada vez mais de “parecer ser” do que “ser”, o peso da opinião dos outros está cada vez mais difícil de carregar. Temos vivido para os outros. O que os outros vão pensar, o que os outros vão dizer, será que vão comentar na minha foto? Tudo porque queremos ser aceitos. Sim, somos seres sociais e queremos ser aceitos pelo grupo. Não há nada de errado nisso. Mas quantas vezes negamos a nós mesmos e deixamos de procurar quem e o que ressoa conosco? Não é uma questão de impor nossa presença e visão de mundo, mas de se relacionar com quem agrega e se nutrir daquilo que te fortalece.
Acontece que se priorizar é visto como “não ser uma boa pessoa”.
Como assim você não vai no aniversário de fulano? Como assim você não vai beber no happy hour? Como assim você não segue seus colegas do trabalho no insta? Como assim você não vai convidar ciclano pro seu casamento?
Não é fácil. Não é fácil ser visto como antipático ou antissocial. Mas é mais difícil fazer algo que não gosta, estar onde não quer e viver o que não agrega. A conta chega.
Se não estivermos dispostos a pagar um preço por nossos valores, se não estivermos dispostos a fazer alguns sacrifícios para realizá-los, então deveríamos nos perguntar se realmente acreditamos neles. - Barack Obama
A pressão se deve a códigos sociais, falta de empatia, desrespeito à individualidade e defesa do status quo. É muito comum as pessoas estranharem aquilo que não faz parte do repertório delas ou do que elas acreditam ter valor. Mas antes da aceitação vem a cobrança. E aí lá vai você “eu tenho que fazer tal coisa pra não ficar chato ou ficar de fora”.
Lembre-se de sua mãe: você não é todo mundo. E não precisa ser amigo de todo mundo, nem estar em todos os lugares, ou ter assistido às séries que estão todos comentando, nem fazer trend nas redes sociais, e por aí vai…
Uma busca constante pelo auto conhecimento também requer descobrir a que códigos estamos seguindo, se por pressão ou por iniciativa própria. Então sempre que eu pensar tenho que fazer tal coisa, vou me perguntar "tenho que por quê?” se as razões forem para agradar o outro em detrimento de mim mesma, a resposta vai ser não tenho que nada, quem manda aqui sou eu.
Claro que isso não quer dizer que você precise ser rude. Não precisa sair por aí ferindo os sentimentos de quem te convidou pra qualquer coisa. Acho que comunicar com sinceridade ajuda o outro a entender que somos indivíduos com necessidades próprias. Que tal um: puxa… adoraria, mas preciso desse tempo pra me organizar em casa. Ou, não me sinto bem e não vou ser uma boa companhia, que tal numa próxima? Gosto de dormir cedo, então esse horário fica ruim pra mim. Sacou?
Então, como nunca é tarde, essa é minha palavra para 2023: ressoar. Se ressoar em mim, sigo em frente.