Trabalhar com publicidade é trabalhar pra nós mesmos.
A bolha publicitária e as últimas notícias do mundo da comunicação.
A dona
além de recomendar esta news na última, também ~mE pRoVOcOu~ no Twitter (no melhor sentido) a pensar sobre isso:Se você me lê e ouve no podcast há um tempo, você sabe minha opinião. É uma peça que dificilmente ganhou as ruas do país inteiro. É o que a gente chama de criação de oportunidade. Alguém teve uma ideia sobre algo que tava todo mundo falando, foi lá fez, aprovou, VRAU.
Eu não me julgo um ótimo criativo pra avaliar criativamente se é bom ou ruim. Então não é o caso. Mas eu queria me debruçar na questão: A gente cria uma bolha pra gente mesmo se comentar?
Pior que sim. É curioso pensar que boa parte do trabalho de publicidade de grandes centros é gerar conversa para a própria imprensa especializada comentar. Esse é boa parte do esforço de relações públicas de uma agência. Contar pra indústria que cobre criatividade o que se fez de legal. Porque eu realmente truco um pouco que consumidores dessas marcas estejam interessadas no que o ChatGPT acha delas.
Eu teço essa crítica aqui com respeito às pessoas que devem estar por trás dessas ideias, porque também devem ser pessoas que são cobradas por terem ideias ~GeNiAiS~ em ritmo frenético. E uma ideia que reverbere só na própria indústria, é melhor que ideia nenhuma. Então, de verdade, eu super entendo.
A minha reflexão aqui é quanto tempo e energia são investidos pra gerar conversa que só a própria publicidade vai ser impactada e mais meia dúzia de pessoas que circulam nos bairros corporativos de São Paulo, onde também estão as agências. Entende?
Veja. Uma clínica de dentistas. Uma marca de roupas. Etc. Pra gerar esforço de PR envia releases e cava pauta em periódicos da sua área falando de si. Já nas agências, boa parte do esforço de PR são conseguidos através do dinheiro de seus clientes (que estão pagando pra agência gerar conteúdos que vão vender mais a agência do que a própria marca anunciante?!?!). Não é doido pensar que em boa parte dos casos, pouca gente consumidora da marca viu aquela ação, mas muitas pessoas da indústria que podem virar futuros clientes da agência viram?
De novo, não é o caso dessa ação em si porque eu não tenho nenhuma informação de números, investimento de mídia, nem tenho ferramentas pra julgar criativamente. Então, não é uma crítica direcionada a essa ação, mas a essa estrutura em que a gente infla e se retroalimenta a partir dessas disputas de genialidade.
Isso tá um pouco ligado ao mito da genialidade buscada em agências sempre, e que gera esse tipo de disputa entre marcas, que acabam reverberando muito mais no mercado, que no mundo. E eu debati isso nesse episódio aqui do podcast, se você quiser ouvir mais.
Agora vem a curadoria de notícias
Nem sempre dá tempo de ler tudo, então, esse momento chegou.
Essa edição será entregue na íntegra para todos, assinantes pagos e gratuitos. Se você for um assinante gratuito, imagine que é esse o jeitinho que tem rolado as edições por aqui, e considere assinar essa news pagando 5 reaizinhos por mês. :)
***O tema mais importante da semana***
O modelo de criatividade + compra de mídia passa a ser debatido.
Se você não sabe, no Brasil é um dos poucos países em que a mesma agência que cria a campanha, também compra a mídia. Ou seja, agências conhecidas como fullservice.
Porém, esse modelo passa a ser discutido quando marcas começam a operar no Brasil com sua conta separada entre agência criativa e agência que faz a compra e estratégia de mídia. Existem opiniões contra e a favor, e essa reportagem do Meio e Mensagem faz esse panorama muito bem, conversando com marcas e agências que passam a operar nesse modelo.
Eu achei só uma pena ter resvalado rapidamente sobre um assunto que pra mim é o mais importante deste tema: REMUNERAÇÃO. Essa mudança incide diretamente sobre modelos de remuneração de agência que no Brasil, historicamente, basearam a precificação da criatividade em cima da verba de mídia (você ganha mais se a verba de mídia for maior. Isso é conhecido por BV).
Com essa separação, você não direciona decisões criativas baseadas na mídia, o que é legal. Ao mesmo tempo, você também perde um pouco de integração, e o controle de onde colocar sua campanha precisa de mais diálogo com outro parceiro comercial. Então tudo fica um pouco mais burocrático. Esse, chuto eu, será um dos grandes debates mais relevantes da indústria, que POUCO veremos no mercado, porque estamos falando das conversas de bastidores que chegam apenas em altas altas altas lideranças (o que é uma pena).
As gigantes de tecnologia Meta, Google e outras reveem seus planos de Cannes diante dos layoffs.
Aqui tem um bom ponto para as agências e marcas se espelharem (não que eu acho que esteja sendo feito do jeito certo). Mas, segundo informações da AdAge, as big techs irão reduzir substancialmente as comitivas de pessoas que enviam para Cannes. Recentemente todas as big techs vêm atravessando ondas de demissões em massa, e isso obviamente não seria bem visto, já que a participação e interação dessas companhias são sempre regadas à muita festa e diversão.
Essa é minha maior questão com Cannes. Um palco que poderia servir para auto-reflexão e questionamentos nesse momento, é majoritariamente usado para celebração, festas regadas à muito dinheiro, lobby sobre movimentos da indústria e tudo mais. Algo que, no meio da crise atravessada, eu acho bem desconectado da realidade que vivemos. Ainda que eu entenda a necessidade de celebração, é paradoxal, já que, segundo porta-vozes do Google, algumas festas com celebridades confirmadas já estão previstas no cronograma das empresas.
A matéria questiona por exemplo, que há muita coisa a ser respondida pelo Google sobre o fim dos cookies pra indústria de publicidade, por exemplo. Então é sim um lugar para isso, mas, né, vamos e venhamos.
É muito complexo pensar em celebração, com 10 mil colegas ao redor do mundo demitidos da noite para o dia, sabe?
Agências e profissionais de marketing temem que o trabalho remoto prejudique a criatividade
Nessa aqui eu vou ser BEM crítico. Uma pesquisa lançada pela consultoria Thinkbox, realizada com lideranças seniors do mercado internacional*** trouxe dados que a indústria tem receio que o trabalho remoto ameace a criatividade. Pô, pera ai, gente. Todo respeito, mas é mais uma pesquisa que ouve lideranças e não ouve as pessoas que trabalham criando ativamente diariamente.
Pontos trazidos pela pesquisa, segundo informações da Campaign, são que essas lideranças informaram que o trabalho criativo é melhor realizado no trabalho presencial, e é dele que saem “os 2% que tornam tudo mágico”. Poxa, sinceramente, eu entendo totalmente que estas pesquisas não são realizadas no Brasil e em nosso contexto, mas pesquisas como essa, encomendadas e realizadas apenas com alta liderança, distorcem a nossa percepção do que é efetivo pra indústria. Nos colocam a questionar a última transformação (trabalho remoto) como se ela fosse o problema, ao invés de nos debruçarmos em outras questões estruturais.
Vou deixar uma ideia aqui: uma pesquisa que fizesse a relação de efetividade e criatividade das campanhas realizadas na pandemia e premiadas em Cannes enquanto tava geral remoto, com as de antes e depois da pandemia. (Afinal, já que Cannes é a métrica, vamos usá-la para fazer pesquisa, né?)
Assim a gente vê se diminuiu ou aumentou o quanto fomos criativos no remoto e no presencial. Eu duvido que tenha mudado. Não deixamos de ser criativos porque trabalhamos de um jeito ou de outro. Deixamos de ser criativos quando nossa rotina é controlada por quem não a conhece.
Trabalhadoras na menopausa apontam falta de suporte das empresas.
Mais um ponto que eu, homem hétero branco, nunca imaginei que seria uma questão. Uma pesquisa encomendada nos Estados Unidos pelo Bank of America, segundo informações da Fast Company Brasil, realizada com 500 profissionais de RH e 200 trabalhadoras, relatou que 51% das mulheres esperam mais suporte e benefícios em relação à essa fase da vida, afinal, impactou sua rotina de trabalho.
Além de achados importantes nessa pesquisa, outro ponto interessante é que: os profissionais de RH acham que estão fazendo um ótimo trabalho nesse sentido. O que nem de longe bate com a percepção das trabalhadoras entrevistadas. Mais de 70% dos profissionais de RH acreditam que as empresas oferecem suporte e benefícios que suportem essa etapa. Enquanto para as trabalhadoras, apenas 32% acreditam o mesmo.
Girinho de notícias
Cliques rápidos para você soltar cápsulas de sabedoria na reunião e garantir o soldo no fim do mês.
Qual progresso estará sendo discutido em Cannes? (Fast Company. Em português).
Neste texto Ana Cortat questiona qual progresso a criatividade apresentada em Cannes estimula. Com uma maioria esmagadora de palestrantes e debatedores vindos dos países do norte global, outras culturas continuam tendo como espelho e aspiração estes países. Recomendo muito a leitura porque nos faz pensar mais uma vez, se queremos uma indústria mais decolonial, onde ouviremos estas outras vozes? Ao mesmo tempo, é importante ocupar estes espaços pois eles não deixarão de existir. Leia já.
Agências usando IA deverão pedir permissão dos clientes. (AdAge. Em inglês)
Agências que queiram utilizar inteligências artificiais em suas ideias, deverão pedir autorização de seus clientes previamente, segundo um manual de boas práticas criado pela Associação Nacional de Anunciantes dos EUA. Esse me parece um bom jeito de começar o debate por aqui, uma associação ABAP, APP ou alguma outra que encabeçasse alguns debates sobre o uso dessas inteligências em propaganda.
As agências in-house não competem (ou não querem) com as agências das marcas (Campaign. Em inglês)
Um relatório trazido pela In-house Agencies Leaders Club, apresentou alguns achados e insights sobre a relação das agências que atendem marcas e as agências in-house dessas marcas. E um dos principais achados é que 82% dos líderes dessas agências veem como crucial a parceria com agências externas, e 62% não as veem como rivais, mas sim como parceiros de negócio.O relatório completo você encontra aqui
Como marcas saem de modinhas vazias, e se reconectam com tendências? (Fast Company Brasil. Em português)
Este artigo questiona o esvaziamento de tendências por conta das marcas se apropriando demais de cada moda passageira. O texto propõe algumas formas interessantes de romper com o esvaziamento da palavra "tendência”, simplesmente porque é ineficaz. “Cerca de 66% das pessoas acreditam que as marcas se esforçam demais hoje. Mesmo que uma marca consiga surfar com sucesso a onda de uma determinada tendência, sua mera participação nessa modinha prejudica o resultado”. Vale a leitura.
Instagram testa chatbots (The Verge. Em inglês)
Uma imagem vazada pelo desenvolvedor Alessandro Paluzzi mostra que o instagram estaria testando chatbots com inteligência artificial que permitiriam aos usuários escolher entre 30 personalidades que mais o agradam, e permitiriam te dar conselhos e informações. Já pensou, sei la, quando marcas puderem usar isso e cada marca tiver sua propria personalidade por IA? D O I D E I R A.
Como tornar reuniões online mais produtivas (Fast Company Brasil. Em português)
O artigo traz algumas soluções de como tornar a reunião mais enxuta com menos tópicos e menos participantes, indo na contramão do que seria o mais intuitivo, você aproveitar o tempo para falar de vários assuntos com o maior número de pessoas possível.
Terry Crews lançou uma agência de publicidade.
Olha a notícia é só essa mesmo. O ator se juntou com dois sócios, publicitários há muito tempo na indústria, para lançar a SUPER SERIOUS. Ainda que os sócios não gostem do termo agência de publicidade, se denominam “uma empresa criativa".
Até o Prime Video vai ter anúncios (Meio e Mensagem. Em português)
Parece que todas as plataformas de streaming tem planos de incluir anúncios em sua programação. Dessa vez seria a plataforma da Amazon, mas que imagina apenas anúncios curtos (por enquanto). Em contra partida, essa aqui é uma das ideias do CEO da Netflix, por exemplo: “Imagine um comercial envolvente de 30 minutos que se estende por vários dias […] Então, quando você sai de um programa para assistir a outro, o anúncio segue você e a história continua”. Olha, parece bom para marcas terem ideias, mas, será que a comunidade de usuários gosta disso? E o mais importante: alguma marca quer ser a primeira a receber o bode dos usuários apresentando um comercial longuíssimo?
Se inspire com as ativações de marcas na Parada do Orgulho LGBT+ (Meio e Mensagem. Em português)
No próximo domingo, será realizada a 27ª edição da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, e a Meio e Mensagem fez um resumão com o que cada marca patrocinadora (são seis) irá levar para o dia do evento. É só texto, resumidão mesmo, vale a pena ler rapidinho pra inspirar.