Vamos nos mudar...
para um lugar calmo, cheio de verde e fácil acesso a São Paulo, mas só quando envelhecermos
Com esse grande click bait para você abrir esse e-mail pedimos desculpas por sumirmos, mas voltamos duas semanas mais velhos. Foram semanas corridas, três viagens depois, estamos de volta para falar sobre um assunto que entrou em pauta nos últimos dias, o envelhecer, isso que acontece com todo mundo, mas quando você é jovem você nunca acha que vai acontecer com você.
E lógico, gravamos mais um podcast. Aqui, falamos sobre nosso futuro, como queremos envelhecer e onde vamos morar depois dos 60. Vem ouvir:
O futuro é velho
Eu sou fascinada pela ideia de envelhecer. Talvez porque só envelhece quem está vivo, e eu tenho uma grande obsessão por continuar viva. Talvez porque algumas das pessoas que eu amo morreram cedo e eu não tive a chance de apreciá-los velhos. Só sei que quando chega o assunto eu sou a primeira a falar: quero!
Eu lembro de uma das primeiras vezes que o tema me tocou, foi em um show da Maria Bethânia, ela declamou poesias por pouco mais de uma hora, e eu nunca na vida tinha visto ninguém conseguir prender a atenção de tanta gente daquela forma, ver aquela mulher, com seus cabelos brancos e suas rugas, me despertou para algo sobre o envelhecer e desde então o tema me é muito caro.
A internet está indo a loucura com Pedro Pascal, e eu concordo bastante, mas aí um vídeo da Babu Carreira (assistam) me pegou: ele é um homem de 47 anos com rugas, cabelos brancos e se tem algum procedimento é bem discreto. E como ela fala no vídeo, qual mulher de 47 anos vira símbolo sexual se não se submeter a cirurgias que envolvem anestesia geral? E eu respondo, nenhuma, e as que se submetem o assunto vira a cirurgia e não o seu talento.
Acho que um dos motivos de Bethânia ter me fascinado tanto naquela leitura, foi ela não ter procedimentos, e continuar cativando as pessoas, foi como se eu visse que é possível alguém prestar atenção no que uma mulher fala mesmo com rugas e cabelos brancos.
Bethânia envelhece como seu irmão, Caetano, que é homem.
E quando eu penso sobre envelhecer e toda estética do envelhecimento eu penso que eu quero ter a liberdade de envelhecer como um homem, sem perder meu valor a cada ruga que surge, sem precisar gastar meu dinheiro e meu tempo, que já são mais escassos que de um homem, com coisas que nem sei se quero ou preciso.
Já fui bem radical sobre procedimentos, fui criada por uma mãe completamente contra qualquer um deles. Mas hoje, acho que se usados com sabedoria e muita análise se você está fazendo isso para se sentir mais confortável na própria pele ou parecer um filtro do Instagram sem poros, ele vem pro bem, como uma forma de drenagem linfática na auto-estima.
A verdade é que o etarismo, palavra que se difundiu nas últimas semanas e significa discriminação contra pessoas com base em estereótipos associados à idade, é muito mais cruel com as mulheres do que com os homens, seja na estética, seja no que devemos fazer em cada idade, e mesclando os dois, qual procedimento fazer em cada idade.
Eu tenho falado muito sobre o futuro. Todos meus futuros projetos envolvem o futuro, e no futuro eu vou envelhecer, e espero que ninguém se distraia com o ano que eu nasci ou as rugas que eu carrego, eu ainda quero ser uma mulher que pode fazer o que quiser, seja uma faculdade ou uma suruba.
Carta Aberta - por Julião
Aos nostálgicos, aos que nasceram na década errada, aos que não aceitam que Axl Rose não tem mais condições de estar em cima do palco. Essa é uma carta aberta a vocês (ou nós, já que ainda estou trabalhando nisso tudo também).
Piera me trouxe uma reflexão essa semana que fez com que eu escrevesse esse texto: Comemoramos quando um tio ou nossos pais se aposentam. É a conquista final de uma carreira árdua. Quando um artista se aposenta, ou se recolhe, ficamos tristes. Isso é bem egoísta.
Falar sobre envelhecimento tem sido um desafio grande pra mim - não que tenha problemas com ficar velho, pelo contrário. Mas em todas conversas que eu e a Piera tivemos sobre o assunto, sempre levo o papo para a morte, que é bem curioso. Levei pra terapia, inclusive. Depois, pensando bem, alguns dos meus ídolos estão bem mais velhos do que eu gostaria. Acho que essa relação velhice x morte pode vir daqui: me preparo há uns 15 anos para quando Paul McCartney se for. Penso nisso pelo menos uma vez por semana e não tenho ideia de como vou reagir.
O tema que trago aqui hoje é sobre o quanto precisamos aceitar o envelhecimento dos nossos ídolos. A primeira vez que entendi que isso era uma questão foi num show do Scorpions no Estádio do Canindé em 2005. Meu irmão era muito fã da banda e aos 10 anos de idade, pediu para que meu pai o levasse ao festival que os teria como headliners. A gente assistia MUITO o DVD deles. Era um show com a Filarmônica de Berlim, com os grandes hits e a banda no auge. Aí, assistir a banda ao vivo, com alguns anos de separação daquele registro audiovisual, foi bem estranho. O guitarrista meio careca, vocais falhando um pouco, bateria sem tanto entusiasmo.
Um pouco mais velho, comprei com a Renata, minha melhor amiga, um show do Bob Dylan no antigo Credicard Hall. Estávamos bem longe e ele não liberou a exibição da apresentação no telão. Demoramos três músicas para entender quem era o Dylan entre os músicos, já que ele decidiu tocar teclado no começo do show. E saímos de lá bem frustrados em não reconhecer quase nenhuma música do longo repertório clássico dele.
Hoje, a frustração não é mais o sentimento. Assistimos a alguns shows do Caetano recentemente e observar a transformação do tropicalista no que talvez seja o maior artista brasileiro de todos os tempos é muito legal. Lembrei muito do David Byrne ao assistir Caetano, que é uma ironia ótima, já que britânico se espelhou tanto no baiano ao longo da carreira. O mesmo acontece com o Gil - fomos testemunhas de vários problemas de saúde que o mirraram - algo que some quando ele sobe ao palco.
De repente o que faz o Bon Jovi manter o cabelo dos anos 80 seja a nossa expectativa de vê-lo cantando Living on a Prayer no mesmo tom - o que não acontece, claro. E vemos poucos artistas, desses gigantes, se aposentando.
O Robert Plant, do Led Zeppelin, foi tocar música celta depois da banda que mudou o mundo - e tá tudo bem, ou deveria estar. O que estou dizendo aqui é que às vezes preferimos ver aquele simulacro nostálgico de algo que já passou a aceitar uma nova fase, ou o envelhecimento de um artista.
Adoraria ver John Lennon. George Harrison nem se fale. Mas acho que seria bem estranho uma turnê do Paul com o Ringo em 2023. Iria? Com certeza.
Repito. Comemoramos quando um tio ou nossos pais se aposentam. É a conquista final de uma carreira árdua. Quando um artista se aposenta, ou se recolhe, ficamos tristes. Isso é bem egoísta.
Pode se aposentar, Paul McCartney. Mas faz só mais um showzinho para me despedir.
Curadoria de Delicadezas
As redes são, em sua maioria, pautadas pelo que os jovens produzem ou fazem, então deixo aqui uma curadoria de perfis para você deixar sua bolha um pouco mais velha e muito mais criativa:
Mirian Goldenberg - para quem se interessa sobre o envelhecimento a antropóloga é uma grande estudiosa do tema e compartilha bastante em suas redes
Grandma Droniak - ela ficou famosa depois de fazer uma lista do que pode ou não em seu velório, ela é perfeita
Avós da Razão - um trio de grandes amigas desafiando os estereótipos
Maria Lucia - acompanhar o dia a dia da Maria Lucia em seu sítio e todas suas conquistas aquecem o coração
Lyn Slater - uma das minhas grandes referências de estilo
Joan MacDonald - uma inspiração fitness
Vó Izaura Demari - extravagâncias de moda não tem idade
Dona Dirce - ser sexy também não é sobre quantos anos você tem
E o texto da Iana Villela que eu falei no podcast sobre a meia idade está aqui.
Para você ouvir
Participamos de um podcast sobre a crise dos 30, o Café com Crise da querida Gabi Cavalcanti e falamos sobre encontrar o amor depois dos 30 anos. Tá muito gostosinho, vai lá escutar.
Tem no Spotify também, aqui.
Foto do Monet da semana
Dessa vez um GIF, pra você achar o Monet, no lugar preferido dele, o Poli’s Heaven. Quando viajamos, Monet sempre fica hospedado lá com o Tio Allan, recomendamos de olhos fechados.
Mamis tá ficando velha, com alguns botox claro. Acho a questão de pensar muito na velhice Julio deve ter herdado de mim. Mas não vou me aposentar. Não vai vibrar com minha aposentadoria não 😀😀😀