A reação de estresse [estado de alarme], a queda de açúcar e os hormônios do estresse
TEORIA do ESTRESSE [III]
[Imagem: aaa ru.freepik]
Quando a pessoa entra em determinado estado de estresse ou recebe o impacto de um estímulo estressante, a adrenalina é liberada imediatamente por um setor do sistema nervoso, chamado simpático [A].
Sim, estamos diante da famosa resposta de luta-ou-fuga. E a glândula suprarrenal [adrenal] aciona essa resposta através daquele neurotransmissor, adrenalina. Este hormônio é determinante em situações de reação rápida, de emergência. Quando necessitamos da atividade do simpático. É o hormônio do estado de alarme.
E, justamente, diante do estressor, acabamos de entrar em uma situação de alarme, de emergência, essa é a razão desse neurotransmissor da emergência estar presente no sangue. Vai acionar vários sistemas em resposta àquilo que o corpo entende como situação de alarme, manifesto na queda do açúcar.
Vai ser provável que a pessoa, por conta da ação simpática, entre em hiperventilação. É o estado comum no ansioso, por exemplo. Respirando mais rapidamente, expirando mais que inspirando, a pessoa tende a perder muito CO2 e a formar ácido lático [mais ou menos como na corrida só que aqui o fará em estado de repouso, até deitado].
O estado de alarme, portanto, implica em diminuição do CO2 nos sistemas e aumento do lactato. Esse estado, cronicamente, constroi doenças.
A adrenalina também estimula a liberação do açúcar que porventura tenhamos armazenado no corpo, no caso o glicogênio [uma molécula polímero da glicose].
Esse açúcar armazenado no fígado é lançado em circulação pela adrenalina. Justamente, o alarme foi desencadeado – metabolicamente falando – pela queda do açúcar sanguíneo [hipoglicemia]. E a resposta imediata do organismo é tentar fazer subir o açúcar plasmático liberando estoques.
É sempre um problema de níveis de glicose plasmática. Estresse gira em torno disso.
Uma pessoa saudável, com fígado hígido, terá glicogênio disponível e, neste caso, a situação de alarme será bem manejada sem necessidade de medidas mais agressivas, por exemplo, de parte do corpo, para criar açúcar. Difícil encontrar tal pessoa no nosso meio.
No caso de haver pouco – ou nenhum - estoque de açúcar, teremos, simultaneamente, o movimento da adrenalina na direção do cortisol, para fabricar açúcar endógeno.
O mecanismo: adrenalina estimula no cérebro um hormônio que ativa a hipófise primeiro, e esta sinaliza para a adrenal para liberar cortisol. Adrenalina estimula o CRH [hormônio liberador do cortisol] no hipotálamo, que ativa o ACTH [hormônio adrenocorticotrófico ou corticotropina] da hipófise, que aciona a adrenal para produzir cortisol. O eixo hipófise-adrenal foi acionado. O que não é bom para a saúde metabólica, diga-se de passagem.
A função essencial do cortisol é aumentar o açúcar sanguíneo, convertendo tecidos do corpo em açúcar, aminoácidos em glicose, pela via da neoglicogênese. Novamente, um fenômeno altamente estressante e, como se vê, todo fundado em mais hormônios do estresse.
Teremos, portanto, lado a lado com liberação de gorduras dos tecidos adiposos para queima, também a destruição de tecidos para fabricação de açúcar. Adrenalina numa ponta, cortisol na outra. Novamente: esse é o status do estado de estresse, muito agravado pela provável presença de gorduras tóxicas [óleos insaturados].
Lembrando que muita atividade do cortisol ao longo do tempo, vai levando à destruição de tecidos [como pele, músculos, timo] e fomentando a gordura abdominal central [belly fat]. [O mecanismo da belly fat não será examinado aqui, merece nota à parte].
Importante lembrar que o açúcar fabricado endogenamente terá dificuldade de entrar na célula, por conta da quantidade de gordura liberada pela adrenal e que inibe a entrada do açúcar [Randle: ciclo da glicose-ácido graxo].
Vejamos a contradição: o corpo em alarme necessita de energia, muita energia e produzida da forma mais eficiente. No entanto, o estresse prolongado terá o efeito de cronificar a produção ineficiente de energia. De fazer as células dependerem muito mais da queima de gordura [beta-oxidação], mais ineficiente na produção de CO2, por exemplo. Lembrando que a presença do cortisol trava a tireoide.
Queimar gordura em vez de açúcar não é o mais fisiológico. Menos ainda com exposição a óleos insaturados. E isso vai criando um ambiente metabólico mais propenso a doenças como diabetes. Também câncer. O diabético, por exemplo, é um fat burner crônico, vive na lipólise [daí sobra açúcar no plasma].
Estamos diante de um ambiente metabólico pró-doença crônico-degenerativa, que cria resistência insulínica, obesidade e envelhecimento precoce.
Eis, em termos de ambiente metabólico, como o estresse crônico vai construindo a doença crônico-degenerativa.
O cortisol vai destruindo músculos, o timo [com resultante inibição da imunidade], tornando a pele mais fina [envelhecimento]. E a destruição de tecidos musculares libera aminoácidos excitatórios como triptofano e cisteína. São inibidores da tireoide. E o triptofano, nesse regime de estresse, se converte facilmente em serotonina.
Círculo vicioso em marcha: serotonina inibe a respiração mais eficiente [queima do açúcar com oxigênio], libera mais ácidos graxos livres, aumenta cortisol, estrogênio, se soma à promoção daquele continuado estado de alarme, de inflamação.
O estado de emergência cuja origem foi a queda do açúcar [por desnutrição, trauma, desgosto, hipotireoidismo, escuridão, qualquer forma de estresse], está sendo perpetuado por determinações surgidas nesse mesmo processo.
Retroalimentação.
Ao mesmo tempo – tudo isso acontece instantaneamente e simultaneamente – a adrenalina desvia o sangue, redistribui o sangue para determinados órgãos e diminui sua presença em outros. O estresse demanda ação de determinados órgãos e sistemas, mas não de outros.
O intestino é um exemplo e isso é muito importante de ser sempre lembrado para que se possa entender como o estresse impacta diretamente e necessariamente ao intestino.
A adrenalina desvia o sangue do intestino, o que resultará em diminuição da função de barreira do intestino e a entrada, em massa, de endotoxinas e tóxicos intestinais em geral. Hiperpermeabilidade intestinal [leaky gut].
O sangue receberá, portanto, uma sobrecarga tóxica proveniente do intestino quando a pessoa se encontra em estado de estresse. Além de tender a ter obstipação e problemas derivados da fraca irrigação de sangue no intestino.
Mas não apenas isso: quando o estresse é prolongado [ou intermitente] a pessoa, impactada pelas endotoxinas, tenderá a desenvolver inflamação sistêmica, com consequente desequilíbrio hormonal.
Além disso, várias moléculas estressoras entrarão em cena e irão interferir com o metabolismo oxidativo, inibindo-o.
Um exemplo disso são os ácidos graxos que a adrenalina libera dos tecidos gordurosos. A adrenalina faz isso como forma emergencial do corpo buscar energia a mais, através dos ácidos graxos; ora, estes – basta que sejam de cadeia longa - são, como se sabe, supressores da respiração celular oxidativa, da queima do açúcar com oxigênio. Teremos, aqui, uma amplificação do estado de estresse.
Muitíssimo maior e devastadora se os ácidos graxos do seu tecido adiposo são insaturados. O que é comum.
Os óleos insaturados inibem função tireoidiana, promovem muita inflamação, danificam a mitocôndria, aumentam peroxidação lipídica e edema. A resposta ao estresse ganha uma amplitude que pode tornar-se bem grave. [Se sua gordura fosse saturada, o impacto seria muitíssimo menor].
Os óleos insaturados estão inibindo a forma mais eficiente de produção de energia, pela queima do açúcar com oxigênio.
A adrenalina é um hormônio que tem esse efeito lipolítico, de aumentar a oferta de gorduras para a queima.
Além, como foi argumentado, de desviar o sangue para determinadas áreas do corpo e outras não [exemplo: as extremidades tendem a ficar frias, exangues, os grandes músculos, ao contrário, recebem afluxo maior de sangue e nutrientes].
Voltemos aos ácidos graxos liberados.
A adrenalina soltou, no sangue, óleos insaturados que,no cérebro, liberam o triptofano do seu carreador albumina fazendo aumentar a síntese de serotonina cerebral. Ao mesmo tempo em que os óleos insaturados liberam serotonina das plaquetas. Portanto, em seu movimento, a adrenalina está promovendo uma dominância serotoninérgica. Deletéria.
Novamente: nessa situação de estresse, o organismo necessita de mais energia [diante da hipoglicemia e da demanda do estressor] mas, justamente, a forma mais eficiente de produção de energia estará sendo bloqueada.
Uma razão: a liberação de ácidos graxos – além de expor todos os sistemas à ação tóxica dos óleos insaturados e seus derivados – irá tornar as células mais dependentes de ácidos graxos na condição de combustível.
Pela abundância da oferta, graças à ação da adrenalina, as células tendem a seguir a via da lipólise em vez da queima do açúcar [eis o efeito Randle].
A produção de energia na presença de óleos insaturados e pela via de ácidos graxos, será menos eficiente. Este é o statu quo da pessoa em estresse: lipólise.
O estado de alarme está sendo perpetuado.
Com dependência de gordura para fazer energia, sob pressão devastadora dos óleos insaturados e tendo que sintetizar açúcar a partir dos tecidos [via cortisol e adrenalina], o estado de estresse está sendo autoperpetuado. O açúcar simples seria benvindo, como tentativa de quebrar esse ciclo.
De toda forma, nesse regime de estresse e sem a chegada de açúcar externo, o corpo, além de liberar gorduras para queima, via adrenalina, também terá que continuar fabricando açúcar a partir de suas próprias proteínas. O que resultará em mais estresse.
Como dizia H Selye, todo estresse deixa suas cicatrizes no organismo.
E como a explicação acima mostra: todo processo crônico de estresse tende a nos adoecer, metabolicamente. Tende a desequilibrar os hormônios [aumentando cortisol, adrenalina, serotonina, estrogênio, por exemplo] e a ir produzindo um acelerado envelhecimento.
Então, sim, estresse adoece e mata. Qualquer que seja sua natureza. E, como dizia R. Peat, “o estresse nos torna mais susceptíveis ao estresse”.
GM Fontes, Brasília, 18-11-23
As informações aqui presentes não pretendem servir para uso diagnóstico, prescrição médica, tratamento, prevenção ou mitigação de qualquer doença humana. Não pretendem substituir a consulta ao profissional médico ou servir como recomendação para qualquer plano de tratamento. Trata-se de informações com fins estritamente educativos.
NOTAS_____
[A] “O sistema nervoso simpático (SNS), também chamado por alguns especialistas de sistema ortossimpático ou sistema toracolombar, é uma das duas divisões do sistema nervoso autônomo (SNA), sendo a outra o sistema nervoso parassimpático (SNP).
As mensagens viajam através do SNS em um fluxo bidirecional. As mensagens eferentes (que saem do sistema) podem desencadear mudanças em diferentes partes do corpo simultaneamente. Por exemplo, o sistema nervoso simpático pode acelerar os batimentos cardíacos; dilatar as passagens dos brônquios; diminuir a motilidade do intestino grosso; constringir vasos sanguíneos; aumentar o peristaltismo do esôfago; causar a dilatação da pupila, piloereção e transpiração; além de aumentar a pressão sanguínea. As mensagens aferentes (que chegam ao sistema) podem transmitir sensações como calor, frio ou dor. A primeira sinapse (na cadeia sináptica) é mediada por receptores nicotínicos fisiologicamente ativados pela acetilcolina, e a sinapse-alvo é mediada por receptores adrenérgicos fisiologicamente ativados por norepinefrina ou epinefrina. Uma exceção são as glândulas sudoríparas que recebem inervação simpática mas possuem receptores de acetilcolina muscarínicos, que são normalmentes encontrados no sistema nervoso periférico. Outra exceção é a de alguns vasos sanguíneos de músculos, que possuem receptores de acetilcolina e se dilatam (ao invés de se constringir) com o aumento da estimulação simpática.
O sistema nervoso simpático estimula ações que permitem ao organismo responder a situações de estresse, como a reação de lutar, fugir ou uma discussão. Essas ações são: a aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, o aumento da adrenalina, a concentração de açúcar no sangue e pela ativação do metabolismo geral do corpo e processam-se de forma automática, independentemente da nossa vontade”. Wikipedia.
[B] [Resumo gráfico desta nota em inglês: https://www.functionalps.com/blog/wp-content/uploads/2012/11/Picture-211.png]
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Bem interessante, esse artigo; é possível notar aqui como todos os temas abordados vão confluindo para um único todo.