Estrogênio como “hormônio feminino” – algo a ver com uma história de desinformação e incompreensãoɁ
Estrogênio está longe de ser simplesmente “hormônio feminino”; ele integra ativamente, qualquer processo de estresse
[Imagem: kb85.ru]
Existe um processo de lavagem cerebral de longo prazo que faz com que pessoas acreditem que o estrogênio é o “hormônio feminino”, hormônio “do estro” e nada mais além disso.
Dessa forma fica encoberto o papel do estrogênio como hormônio do estresse.
Sim, é o estrogênio que está por trás da determinação do fenótipo feminino, sim, mulheres apresentam, como padrão, níveis mais altos de estrogênio que homens, sim, o estrogênio cresce durante a gestação e na primeira metade do ciclo menstrual, mas nada disso pode encobrir o fato de que a) quando o estrogênio aumenta, naqueles casos, ele é mantido sob controle da progesterona, de suficiente progesterona, e b) o estrogênio opera, por outro lado, como hormônio do estresse, suas propriedades são de resposta adaptativa ao estresse [reter líquido, aumentar formação de coágulos, acionar divisão celular e assim por diante].
É desinformação [com brainwashing de décadas] achar que apenas os ovários produzem estrogênio, que homens não possuem estrogênio, ou não perceber, de uma vez por todas, que qualquer célula, essencialmente qualquer célula do nosso organismo pode secretar estrogênio em resposta ao estresse e à inflamação.
Ou, desconhecer, como explica R. Peat, que “homens idosos chegam à testosterona baixa por conta de que tecidos em estresse transformam rapidamente testosterona em estrogênio”. Um processo conhecido como aromatização, promovido por uma enzima, a aromatase, que se encontra em cada tecido do corpo.
Mesmo homens, jovens, quando caem enfermos, “muito enfermos ou sofrem um acidente grave, apresentação estrogênio muito alto. E usualmente esse estrogênio acionará prolactina, hormônio do crescimento [GH] e um punhado de outros hormônios adaptativos secundários” [R. Peat].
Mais de uma vez, R. Peat cita o caso de homens que começam a produzir leite, imersos em um profundo processo de estresse, como no caso de vários homens que “quando terminou a II Guerra e foram libertos de campos de concentração,e começaram a poder comer, conseguindo suficiente energia para mobilizar tireoide e assim por diante, eis que começaram a dar leite; tinham maltratado seus tecidos tanto que estavam encharcados de estrogênio” [R. Peat].
Dessa forma, o estrogênio – em certa medida, como o cortisol – possui funções na fisiologia humana [homens e mulheres] e uma delas, agora no campo da reação de estresse, é a de operar como hormônio do estresse. E, também, de acionar, quando entra em cena, uma série de outros hormônios do estresse como a serotonina, a histamina, prolactina, GH, os mediadores inflamatórios e acionando processos fibróticos [mioma uterino, por exemplo].
Mais de uma vez foi analisado aqui o papel do estrogênio na construção da doença crônico-degenerativa. Por exemplo, aqui, aqui , também aqui e aqui. E também foi examinado o mito de que o estrogênio cairia na menopausa .
Portanto, o estrogênio, por sua condição de estresse – e não de “hormônio da mulher” – tem um lugar estratégico na fisiopatologia, na gênese de doenças que vão da TPM ao câncer de próstata [Sobre câncer de próstata, ver aqui].
E quando ele integra processos fisiológicos como o ciclo menstrual ou opera ao longo de toda a gestação, haverá tanto mais equilíbrio e saúde, quanto mais ele esteja sendo controlado e modulado pela progesterona. É a presença da progesterona que garante que o estrogênio não vá além dos limites dos seus papeis estritamente fisiológicos.
Vejamos mais elementos sobre o papel fisiopatológico do estrogênio na longa citação a seguir, de R. Peat:
“Embora a incidência da doença de Alzheimer seja duas a três vezes mais alta em mulheres do que entre homens, existe uma grande campanha em curso que pretende convencer ao público de que suplementar estrogênio irá prevenir a doença. E o estrogênio é também principalmente promovido para prevenir osteoporose [outro problema que é mais comum em mulheres] e doença cardiovascular [mais comum em homens].
Essa substância, estrogênio, que entrou em uso médico na condição de ´hormônio feminino´, para o tratamento e ´problemas femininos´, especialmente para melhorar a fertilidade e, também, para evitar a fertilidade, como contraceptivo oral, é agora indicada primariamente para a população do período pós-reprodutivo, para problemas que são essencialmente não relacionados à feminilidade. E está, de fato, sendo apresentada ao público como algo para prevenir doenças principalmente relacionadas ao envelhecimento. [...]
Na publicação The biological generality of progesterone [1979] propus que uma longa vida de produção de energia e longevidade é fortemente influenciada pela progesterona e nutrição pré-natal.
Esta ideia era baseada no trabalho de pessoas como Marion Diamond, que mostrou que progesterona pré-natal aumenta o córtex do cérebro e que estrogênio o torna menor, e de Leonell Strong, que mostrou que um tratamento que baixasse a função estrogênica em jovens animais poderia produzir várias gerações de uma prole livre de câncer. O trabalho de Strong era muito encorajador, porque mostrou que problemas biológicos que tinham sido ´semeados´ em outras gerações poderiam ser corrigidos por tratamentos metabólicos simples.
Examinando aqueles efeitos profundamente tóxicos do longo uso do estrogênio, que moldavam o desenvolvimento, crescimento e função do animal, e até mesmo sua hereditariedade, vemos o quanto é importante aprender como o estrogênio funciona, uma vez que tais mudanças fundamentais, e que abrangem todo o espectro da biologia, produzida por uma simples molécula, prometem revelar coisas interessantes sobre a natureza da vida.
Envelhecimento é um problema de energia, e o cérebro, que apresenta demanda extrema de energia, se choca com o déficit de suprimento de energia, o que rapidamente faz com que células morram.
Acredito que o ´princípio´ do estrogênio, em todas as suas ações é o de interferir com o modo respiratório de produção de energia. É um princípio integrador que explica os efeitos diretos e imediatos do estrogênio nas células e organismos. [...] A doutrina usual do ´receptor de estrogênio´ não consegue explicar o fato de que uma simples injeção de estrogênio pode matar grande parte das células cerebrais. Mas aquele princípio explica porque o estrogênio faz com que as células captem água, permitindo ao cálcio entrar, ativa várias enzimas da divisão celular. No plano do organismo, explica porque o estrogênio mimetiza o ´choque´, liberando histamina e ativando o sistema nervoso e glandular de resposta ao estresse. [...]
Pessoas já falaram de ´cascatas´ em relação ao estrogênio e os corticoides da adrenal [exemplo: cortisol] como capazes de conduzir a dano celular, mas no real, tais cascatas hormonais precisam ser vistas como parte de um colapso mais geral dos sistemas adaptativos, como resultado de inadequações crônicas e imediatas da produção de energia.
O estrogênio ativa a reação de estresse da adrenal pela via do hipotálamo e da hipófise, por ações diretas nas glândulas adrenais e através de uma variedade de efeitos indiretos como o aumento de ácidos graxos livres. Ele ativa a via excitotóxica do ácido glutâmico e interfere com a inibição protetora dos nervos pela adenosina. [...] Esses e outros fatores promovidos pelo estrogênio interfere rápida e seriamente com a respiração mitocondrial. [Levando a um déficit de energia][...]
Em suma, além de trazer novos insights para a compreensão da energia biológica e envelhecimento, o reconhecimento de que o estrogênio ativa o sistema de hormônios do estresse – o sistema hipófise-adrenal – também traz insights claros para outros problemas, como a síndrome do ovário policístico, o hirsutismo, hiperplasia da adrenal, doença de Cushing e assim por diante”[R. Peat][B].
Em outras palavras, transcendendo seu papel de “hormônio feminino”, basicamente o único papel que a narrativa oficial lhe reserva, o estrogênio deveria ser entendido pela sua capacidade sistêmica de engendrar a doença crônico-degenerativa e acelerar o envelhecimento, elementos que podem ser contrariados, terapeuticamente, pelo uso da progesterona e correção do hipotireoidismo.
GM Fontes, Brasília 22-3-24
As informações aqui presentes não pretendem servir para uso diagnóstico, prescrição médica, tratamento, prevenção ou mitigação de qualquer doença humana. Não pretendem substituir a consulta ao profissional médico ou servir como recomendação para qualquer plano de tratamento. Trata-se de informações com fins estritamente educativos. Nenhuma das notas aqui presentes, neste blog, conseguirá atingir o contexto específico do paciente singular, nem doses, modo de usar etc. Este trabalho compete ao paciente com seu médico. Isso significa que nenhuma dessas notas - necessariamente parciais - substitui essa relação.
Notas ____________
[A] PEAT, Ray, 2017. Entrevista intitulada Endocrinology.
[B] Peat Ray s\d. Estrogen, aging and stress. https://raypeat.com/articles/articles/estrogen-age-stress.shtml
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