Quando a alimentação promove aumento do estrogênio corporal
Resumos de FISIOLOGIA HUMANA n.8 – A relação dialética fígado-estrogênio-proteína alimentar
[Imagem: souspark.ru]
É possível imaginar que determinados alimentos são estrogenizantes [tofu] ou que determinadas plantas [linhaça, soja] possuam esse mesmo efeito, de aportar estrogênio ao nosso corpo. Assim como também no caso dos xenoestrógenos dos plásticos e petróleo, é possível imaginar que nos estrogenizam. Isso costuma ser aceito.
O que é mais difícil e talvez contraintuitivo é que se perceba como uma alimentação, por exemplo, de baixo teor de proteína pode ser o elemento que aumente o estrogênio no corpo, podendo, por si só, levar a uma dominância estrogênica.
Daqui surge, então, a questão: consumir mais proteínas ou menos proteínas, o que isso pode ter a ver com aumento do estrogênio corporalɁ
Tem tudo a ver e, justamente por conta da conexão estrogênio-fígado-tireoide.
Vejamos.
A tireoide funcionando bem garante que o fígado tenha toda a energia de que necessita para eliminar estrogênio do plasma. O plasma possui seu nível padrão de estrogênio, ligeiramente mais elevado [em defaut] no gênero feminino, e é o fígado quem se encarrega de manter as coisas desse jeito. Impedindo que, por qualquer razão, o estrogênio aumente no plasma, vá além de certo limite.
A tireoide normal faz com que o fígado disponha de seu estoque de açúcar [glicogênio] que é parte das ferramentas para deter uma hipoglicemia, que viria com aumento de cortisol e adrenalina, e o glicogênio, por sua vez, também é essencial para energizar o fígado de tal forma que ele possa destruir cem por cento do estrogênio que chegue por lá. Em excesso.
O fígado mantém os níveis de estrogênio adequados no plasma, portanto.
Para cumprir esse papel o fígado necessita, sine qua, de açúcar, tireoide ... e proteína. E de estar hígido [sem cirrose, por exemplo].
“O fígado, quando conta com adequada proteína e tireoide, é absolutamente eficiente em se livrar do estrogênio [em excesso] que circula no organismo. E é por essa razão que quando a função tireoidiana é rebaixada, o estrogênio circulante no organismo se eleva” [R. Peat].
Entenda-se, então, que o fígado está cumprindo uma função detox em relação ao estrogênio e que, para cumprir esse papel necessita de suficiente proteína na alimentação e uma tireoide normofuncionante. É o básico. Sem isso ele tende a decair nessa sua função e em outras.
E é por isso que “alimentação com pouca proteína e, por outro lado, hipotireoidismo, ambos, de diferentes formas, levam a excesso de estrogênio com risco anormal de coágulos sanguíneos, derrame, doença cardiovascular e assim por diante” [R. Peat].
Então, sim, uma pessoa, adulta, que consuma apenas dez ou trinta gramas de proteína - mesmo de alto valor biológico - por dia, tenderá a apresentar seu estrogênio corporal elevado. Não necessariamente no plasma, mas nos tecidos. Acima de ao menos 50 g por dia seria o recomendável segundo R. Peat. E, mais frequentemente ele recomenda como necessário 80-90 g/dia.
Proteína suficiente e tireoide operante.
Já foi demonstrado que retirar a tireoide de um animal fará com que ele acumule nos sistemas, uma quantidade notável de estrogênio. “Quando observamos os ovários de uma cadela ou uma vaca, quando se retira sua tireoide, veremos que esses animais desenvolvem uma condição policística, isto é, ao invés de apenas um folículo ovariano se preparando para a ovulação, os ovários se enchem com fluido em seus compartimentos, a ovulação é anormal, e desenvolvem uma tendência a produzir um excesso de estrogênio” [R. Peat].
Um problema ovariano grave causado pela supressão da tireoide.
Poderia ser outro órgão. A acumulação de fluido também pode ocorrer – novamente mucopolissacarídeos – no globo ocular no glaucoma, como explica R. Peat, mais uma vez determinada por hipotireoidismo.
Fica evidenciada uma direta relação entre hormônio tireoidiano e estrogênio. “Em vários níveis, o hipotireoidismo conduz a um excesso da influência, persistência e superprodução de estrogênio” [R. Peat].
De alguma maneira, é como se o organismo tendesse, quando funciona normalmente, com saúde, na direção da dominância tireoidiana e de progesterona. Caso contrário, mergulhado em processos de estresse, ele tende à dominância estrogênica.
Ou o organismo tende a uma direção ou à outra. De conjunto, ele funciona assim. Estrogênio e progesterona se antagonizam.
Em outro plano, o que vai acontecer com o fígado quando a alimentação traz insuficiente proteína é que – como foi explicado – ele não contará com os materiais para a devida eliminação do estrogênio que passa por lá.
Por sua vez, baixo consumo proteico também impacta negativamente a função tireoidiana. Fígado e tireoide não podem ficar sem adequada proteína dietética. E, no entanto, muitas dietas da moda, além de funcionaram no marco de uma perspectiva antiaçúcar, também tendem a orientar o baixo consumo de proteína. E, ainda por cima, muitas vezes, proteína de origem vegetal, de baixa qualidade [e acompanhada de grande número de antinutrientes, inclusive óleos insaturados, dos quais os vegetais – sementes - são ricos].
De tal forma que “mesmo que a pessoa possa imaginar que está consumindo muitos alimentos proteicos, como grãos e nozes, a sua qualidade é tão baixa que seu fígado simplesmente não pode responder à tireoide” [R. Peat].
Portanto, quando for detectado um quadro de hipotireoidismo [baixa temperatura corporal, pulso baixo, reflexo de Aquiles lento] é de importância estratégica que a pessoa pense na alimentação. Pode pensar na pílula de estrogênio, também na alimentação que promova endotoxinas, na agresão por uso de óleos insaturados, mas não deve deixar de pensar em algo que é pouco lembrado, a pessoa pode estar consumindo muito pouca proteína diariamente, proteína de boa qualidade. Menos que 50 g por dia já é um nível preocupante. E potencialmente patogênico.
Essa é também uma maneira de ilustrar aquele princípio pouco entendido de que você é o que você come. Seu hipotireoidismo pode ser apenas derivado de suas escolhas alimentares. E do seu grau de estresse cotidiano.
Claro que a pessoa pode optar por ser vegana, também por consumir pouca proteína animal diariamente, tudo é uma questão de livre escolha. Mas não custa estar consciente de que mesmo vivendo muito, sua qualidade de vida estará comprometida em determinado grau por um hipotireoidismo construído na cozinha...
Você pode ler mais sobre hipotireoidismo aqui e aqui. E sobre estrogênio e tireoide, aqui.
GM Fontes, Brasília, 21-3-24
As informações aqui presentes não pretendem servir para uso diagnóstico, prescrição médica, tratamento, prevenção ou mitigação de qualquer doença humana. Não pretendem substituir a consulta ao profissional médico ou servir como recomendação para qualquer plano de tratamento. Trata-se de informações com fins estritamente educativos. Nenhuma das notas aqui presentes, neste blog, conseguirá atingir o contexto específico do paciente singular, nem doses, modo de usar etc. Este trabalho compete ao paciente com seu médico. Isso significa que nenhuma dessas notas - necessariamente parciais - substitui essa relação.
Notas _____________
[A] PEAT, R. 1996 —The thyroid - interview radio. As anotações de fisiologia acima resenhadas foram desenvolvidas, em seus inúmeros textos e entrevistas pelo PhD R. Peat [1936-2022].
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