Como boa neurótica, gosto de escrever sobre coisas que ainda não aconteceram. Escrevi sobre o potencial Fla-Flu que ocorreria nas quartas-de-final da Libertadores. Não rolou — por incompetência da parte responsável pela letra a. A nossa parte, a gente fez. Agora que o Fluminense está na semifinal, posso falar à vontade sobre o confronto que não foi.
O maior Fla-Flu de todos os tempos. Num mata-mata da nossa maior competição continental. Com ambos os clubes jogando em alto nível e disputando títulos. Jogos de ida e de volta no maior templo do futebol mundial, o Maracanã. Artilheiros com refinado faro de gol nos dois lados do gramado: o argentino Germán Cano no nosso e o brasileiro Gabriel Barbosa no deles.
Mas no meio do caminho tinha um Olimpia. Tinha um Olimpia no meio do caminho. A pedra que emperrou a trajetória deles foi chutada para bem longe pelo Flu. Em casa, 2 x 0. No Defensores del Chaco, em Assunção, 3 x 1. Cinco a um no placar agregado. Som que traz deliciosas reminiscências do 5 x 1 que metemos no argentino River Plate na fase de grupos.
Nas oitavas-de-final, enquanto o rival era eliminado pelos paraguaios, nós mandamos pra casa o Argentinos Juniors. Com a bênção de João de Deus, se tudo der certo, passaremos pelo Internacional e venceremos um terceiro clube argentino, o Boca Juniors, na grande final, a ser realizada em nossa casa.
Sim, torço para que o Palmeiras fique por São Paulo mesmo. Lá sou mulher de querer complicação pro nosso lado? Além de os alviverdes terem um excelente retrospecto recente na competição, tendo sido campeões em 2020 e em 2021, carregamos boas lembranças de enfrentar o Boca no Maracanã.
Em 2008, pela semifinal da Liberta, derrotamos o azul y oro por 3 x 1, de virada, com gols de Dodô, Washington Coração Valente e Dario Conca, o último argentino a roubar nossos corações antes da chegada de Cano – um beijo pra você, Conquita! O elenco do Boca era muito superior ao atual. À época, contava com Juan Román Riquelme, Martín Palermo e Rodrigo Palacio, três dos mais celebrados futebolistas hermanos daquele período.
Teje profetizado que seremos campeões sobre o Boca Juniors, com três gols de Cano. E te digo que minhas palavras têm poder. Termino de escrever esta carta logo após o apito final de Fluminense x Fortaleza, pela 22ª rodada do Campeonato Brasileiro. A partida rolou no Estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda, sul do estado do RJ.
Arena acanhada, gramado péssimo, joguinho truncado, arbitragem fraca. Primeiro tempo ruim do Fluminense. O confronto se encaminhava para um 0 x 0 que, naquelas circunstâncias, era até lucro (apesar da bobeira de perder dois pontos em casa). “E capaz de o Fortaleza fazer um gol no finalzinho”, comentou meu pessimista amigo Victor Hugo enquanto debatíamos pelo Instagram.
“Sendo a positiva tóxica: também pode sair um golzinho nosso no final kkkkkkk”, respondeu a otimista eu, às 17h55. O placar da televisão marcava os 45 minutos do segundo tempo. Um literal minuto depois, mandei: “ISSO CARALHO” (sic – em geral, prezo muito pelo bom uso das vírgulas, mas, em se tratando de futebol, o leitor imaginário há de convir que elas podem ser jogadas para escanteio).
O lateral-esquerdo Diogo Barbosa (sem parentesco com o atacante rubro-negro) arriscou uma bola de fora da área, com a perna direita, e marcou o golzinho salvador que eu cantara havia instantes. Podem me agradecer, tricolores. O mérito é meu. “Parece que a sua perspectiva é a certa”, admitiu Victor Hugo. Música para meus ouvidos.
Mas eu falava do Fla-Flu que não foi. Enquanto vivíamos a expectativa do Fla-Flu do século, escrevi o texto abaixo – projetando uma vitória do Flu, é claro. Lá sou mulher de agourar meu próprio time? (Sim, Victor Hugo, isso é uma indireta pra você.) É um texto bobo em que uso uma analogia nada a ver. Mas gosto justamente da tosquice e da aleatoriedade dele. Segue:
O sexto livro da série Harry Potter, “O Enigma do Príncipe”, começa no gabinete do primeiro-ministro do Reino Unido. Ele havia acabado de tomar posse e saboreava a vitória quando ouviu um estampido vindo da lareira. É o ministro da magia, o equivalente a primeiro-ministro do mundo bruxo. O mago explica ao trouxa (como são chamados os seres desprovidos de magia, isto é, nós) que está acontecendo uma guerra, que Voldemort e os Comensais da Morte estão tentando tomar o poder e que isso pode vir a resvalar na jurisdição do primeiro-ministro, ou seja, o mundo trouxa.
Ele demora um pouco pra assimilar a torrente de informações despejadas pelo outro, mas por fim entende. O ministro da magia se despede e, antes que ele pudesse voltar para seu mundo através da lareira (usando o chamado pó de flu – mera coincidência), o primeiro-ministro faz a pergunta que todos nós, trouxas, já pensamos ao menos uma vez na vida: "Se vocês fazem magia, por que não resolvem magicamente essa situação?" O ministro bruxo ri e responde: "O problema, meu caro, é que o outro lado também faz magia."1
Magia dos dois lados. É o que sempre é o Fla-Flu. Hoje, a magia tricolor superou a magia rubro-negra. Estamos na semifinal da Libertadores. Pela primeira vez desde 2008, quando perdemos a final para a LDU em, honestamente, uma das melhores e piores noites da minha vida. Quinze anos depois, esse título tem que vir pra casa. É nosso por direito.
Disse ali em cima que nós, trouxas, somos desprovidos de magia. De fato, somos. Sozinhos. Mas junto a outras dezenas de milhares de loucos da cabeça nas arquibancadas (sem mencionar os milhões no sofá), somos capazes de ajudar a carregar um time até o título mais sonhado, mais desejado de todos. O grito está entalado há 15 anos. No dia 4 de novembro de 2023, ele, enfim, se libertará.
Ainda falando de Fla-Flu, lembrei de uma postagem que fiz em 9 de novembro de 2009, no blog que eu mantinha na época, o “Moi, bizarre?!” (eita como sempre foi francófona). Eu tinha apenas 13 anos e escrevi um texto que tocou meu eu de 27. É um bilhete de amor ao futebol e à minha família. Que fique também registrada aqui essa singela homenagem à família Santos, ao Fluminense e, surpreendentemente, aos rivais cariocas.
Futebol está incluído no hall de minhas grandes paixões junto com História, moda e música.2 Sou completamente apaixonada pelo meu time de coração, Fluminense, e ele está fazendo milagres que merecem destaque nesse meu blog. Quando todos já davam como certa a queda do Flu para a Série B do Campeonato Brasileiro, o time engatou uma reação de dar inveja a qualquer clube da outra ponta da tabela (leia-se Palmeiras3): derrotou o Atlético-MG, Cruzeiro e Palmeiras (todos brigando por Libertadores, no mínimo) e está na semifinal da Copa Sul-Americana.
Ontem foi maravilhoso! Assisti ao jogo Fluminense vs. Palmeiras na casa da minha tia Dinha, família toda reunida: flamenguistas (minoria na família) assistindo a Atlético-MG vs. Fla e tricolores (grande maioria) assistindo ao jogo já citado. O Fla abriu o placar no Mineirão para delírio dos flamenguistas da famílias e quem diria: tricolores também comemoraram! E quem diria [2]: flamenguistas também comemoraram quando o Flu marcou contra o Palmeiras! Ao final dos dois jogos, toda a família gritou: FLA-FLU, FLA-FLU!!! Isso nunca havia acontecido na minha família: as duas torcidas se unirem. Que venham mais momentos assim.
OBS¹.: Parabéns ao Flu por essa arrancada.
OBS².: Parabéns ao Fla e tomara que seja campeão.4
OBS³.: Parabéns ao Vasco da Gama por ter garantido a subida para a Série A.5
P.S.: Zero menção ao Botafogo, pois não há nem nunca houve um alvinegro na família. Será que algum(a) dos/as primos/as vai acabar se casando com um(a) botafoguense? Tadinho/a, vai sofrer bullying igual ao meu padrinho, o único vascaíno.
As aspas não são exatamente essas, lembrei de cabeça. Mas o espírito é esse, acredite.
Não lembrava que considerava a moda uma das minhas grandes paixões. Certamente não voltei a fazer tal afirmação nos últimos 13 anos. Quão irônico é que eu tenha acabado de costurar uma blusa do Fluminense pra mim? O tempo é mesmo cíclico.
Eita como sempre teve pinimba com o Palmeiras.
Hein????? Mas que generosinha.
E tá ainda o coitado do Basco na parte debaixo da tabela, tsc, tsc.