Chegou a hora de mudar de igreja? Depende das amizades
Expulsamos a amizade como caminho de transformação de Jesus. Precisamos retornar a Igreja primitiva.
Um dia, uma jovem veio conversar comigo sobre seu desejo de sair de nossa igreja.
Ela faria uma transição para outra congregação.
Escutei atentamente, com o coração apertado.
Disse a ela que deveria ir em paz, que Deus a abençoaria.
Eu estava triste, mas não porque o grupo sofreu uma baixa.
Tampouco entristecido porque o indivíduo A ou B foi responsável pelo afastamento daquela jovem.
O que verdadeiramente me incomodou foi perceber que, apesar de ter passado um bom tempo conosco, ela não conseguiu desenvolver uma amizade transformadora.
É justo refletir sobre a saída de uma igreja onde não temos amizades. Isso ao menos significa que as amizades são importantes no Reino de Deus.
Mas a maioria das pessoas não pensa assim. Na cabeça de alguns, tanto faz estar em uma igreja ou outra, pois "estarei ao lado de Jesus" - dizem.
Esse é o típico pensamento que despreza as amizades, mostrando uma ignorância a respeito das Escrituras. Jesus não nos chamou apenas para segui-lo, mas para segui-lo acompanhado de um grupo de amigos.
Igreja não é apenas lugar
Quando uma pessoa deixa de congregar em uma igreja e vai para outra, ela não troca apenas de templo, endereço ou nome de ministério.
A igreja é composta por pessoas que creem em Jesus Cristo e ocasionalmente se reúnem em um local físico ⛪.
A igreja não é apenas um lugar, mas um grupo de pessoas que vão a um lugar.
Portanto, ao deixar uma igreja específica, deixamos pessoas específicas.
Não que seja impossível a amizade com alguém após sua saída da igreja; tampouco estou dizendo que trocar de igreja seja algo negativo ou inviável. Em certas circunstâncias, pode ser a melhor opção, enquanto em outras, a pior.
Desejo apenas que você, caro leitor ou leitora, supere o pensamento ingênuo de achar que a igreja se resume a quatro paredes.
Quando aquela jovem conversou comigo sobre sua saída, não foi a mudança de local que me entristeceu, sabia que ela estaria com Deus. O que me entristeceu foi perder sua participação em nossa vida comunitária.
A tentativa de amizade com nosso grupo, de forma ativa, presencial e transformadora, não seria possível.
Fé e amizade. Tem relação?
Não é possível levar uma vida cristã sem um grupo de amigos cristãos
Essa foi a afirmação que postei em minha rede social, acompanhada da foto de Timothy Keller, autor da frase.
Meu objetivo no dia da postagem foi motivar as pessoas a não desistirem da Igreja, apesar dos desafios.
Mas veja alguns comentários que recebi:
Confesso que nenhuma das respostas me surpreendeu.
Muitos cristãos têm uma experiência de "vida de igreja" focada apenas em liturgia, entrega de ofertas e sermões, negligenciando a importância das amizades na fé.
No entanto, aproveitando da afirmação de Timothy Keller, precisamos de um grupo de amigos cristãos ao nosso lado para seremos cristãos melhores.
Recuperando a missão da igreja
Um projeto da igreja que está sendo esquecido é o que chamo de amizade transformadora.
Trata-se de um fenômeno muito antigo da amizade entre os cristãos que congregam em um mesmo local, onde há uma ajuda mútua para que cada indivíduo busque ser semelhante a Jesus.
A Bíblia, como nossa fonte principal, atesta a amizade transformadora.
O evangelista João nos informa que Jesus chorou profundamente com a perda de seu amigo Lázaro (Jo 11:35-36).
Após uma refeição com seus discípulos/amigos, Jesus chamou três deles para orar de forma bem próxima, em um momento de grande angústia da sua vida (Mt 26.36-46).
Portanto, não é de estranhar que Jesus chame seus aprendizes de amigos: "Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos" (Jo 15.15)
Jesus não se utiliza dos termos da amizade à toa, ele acredita e se utiliza da amizade como balizador de transformação do indivíduo.
Devemos ignorar as palavras de Jesus?
"O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros como eu os amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos. Vocês serão meus amigos, se fizerem o que eu ordeno" (Jo 15.12-17).
Infelizmente, expulsamos a ideia de amizade das nossas igrejas ❌
Esquecemos que nossa missão não é apenas pregar, mas fazer discípulos (Mt 28:18-19). A referência do discipulado incentivada pela Bíblia é um grupo de amigos buscando obedecer Jesus.
Um jeito de Jesus transformar
Sabemos de cor e salteado que Jesus transforma. O que não entendemos e não queremos aceitar é que Jesus escolheu nos transformar por meio da amizade.
Unidos pela mesma fé e batismo, devemos pensar na igreja como o ambiente criado por Deus para cultivar amizades que nos ajudarão a glorificá-lo.
Não seria isso a igreja primitiva?
"Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade. Todos os dias eles continuavam reunidos no Templo e comiam juntos em suas casas; e comiam com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e gozando do favor de todo o povo" (At 2:43-47)
Que tal participar da amizade transformadora?
Pode parecer que tudo que estou descrevendo é utópico.
Não estou sugerindo que você será amigo de todos na sua igreja, sempre em paz, sem conflitos e com uma proximidade admirável.
No entanto, também não podemos achar normal frequentar uma igreja por um longo tempo, entrando e saindo, sem construir amizades transformadoras.
A preocupação que tinha com a saída daquela jovem da igreja, assim como tenho com qualquer um que faz esse tipo de mudança, é que encontre um grupo de amigos para ajudar na caminhada cristã.
Não suportaremos viver só de sermões, cantos e congressos.
Precisamos de amigos para compartilhar as cargas e sugiro que alguns deles estejam na sua igreja local.
Afinal, a amizade transformadora não é uma invenção minha, mas algo esperado de um Deus trino, que desde o início declarou que não era bom o que ser humano estivesse só.
Então, na nova aliança, criou a igreja.
🧠 Processando na mente
📕 O que estou lendo:
A nossa transformação em Cristo (Hildebrand).
Estou revisitando um livro de um teólogo católico que aborda o tema da vida espiritual. Faz parte do meu processo de organização para as aulas da Imersão em teologia, onde discutirei sobre o discipulado cristão com meus alunos. Como parte desse processo, estou relendo vários livros para aperfeiçoar as aulas.
🎵 O que estou ouvindo:
As coisas estão mais animadas por aqui, com o gospel do Raiz Coral.
🎬 O que estou assistindo:
Conclui essa série. Ainda estou pensando nela, por isso não arrisquei começar nada novo. Posso falar sem medo que é uma das melhores séries que assisti.
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Victor Romão.