#46 Aula 4/10: Sofrer faz parte
Evitar o sofrimento é uma das piores escolhas que se pode fazer
Veja a entrevista completa aqui.
Isso é tudo! Espero que tenha gostado desta edição da newsletter.
HAHAHAHA BRIN-CA-DEI-RA
Mas acho que não há nada que possa dizer sobre sofrimento que Viviane Mosé já não tenha dito muito melhor. Esse trecho acima, inclusive, me marcou de maneira ímpar em um momento muito difícil.
Quando voltei dos EUA, transtornada e estraçalhada, nada mais fazia sentido. Estava de luto pela morte do meu sonho e daquela versão de mim. Para me proteger, decidi que pararia de sonhar e me dedicaria apenas ao que estava indubitavelmente ao meu alcance. Queria a todo custo evitar novos sofrimentos e viver uma vida sem decepções.
Não sei exatamente como me deparei com esse vídeo da Viviane Mosé. Só sei que, apesar de ter ficado um pouco revoltada com essa visão, não consegui parar de pensar nela e tentar de alguma forma compreender porque ela pensava dessa forma.
Anos mais tarde, George me disse a mesma coisa que Viviane Mosé, que devemos aceitar o sofrimento porque ele é inevitável e lutar contra ele é contraprodutivo. (George, se ler isso, não sei se é exatamente assim que você pensa, mas foi assim que registrei a ideia).
Hoje, acho que entendo exatamente o que eles quiseram dizer e, não só isso, concordo com ambos. Evitar o sofrimento é uma forma burra e covarde de levar a vida - o que tem tudo a ver com as duas aulas anteriores.
Aceitar sofrer é o mesmo que buscar sofrer?
NÃO.
Claro que não é. É preciso ser muito burro ou desequilibrado para ficar ativamente procurando por oportunidades para sofrer ainda mais do que esperado. No entanto, existir neste planeta como ser humano implica passar por sofrimentos e aceitar isso é muito mais inteligente e corajoso do que fazer o contrário.
Por exemplo, depois que passei por uma relação longa e abusiva, seguida por uma relação sem pé nem cabeça e sem futuro, fiquei meio traumatizada e desconfiada da minha própria capacidade de identificar comportamentos problemáticos, as famosas “red flags”. Precisei de um tempo de processamento das emoções, mas percebi que chegou um ponto que o que eu estava fazendo era fugir de qualquer possibilidade de deixar pessoas novas entrarem na minha vida enquanto sonhava com algum momento futuro no qual as estrelas se alinhariam e conheceria alguém já pronto que não levantaria sombra de dúvidas em mim. E não é assim que as coisas funcionam, né?
Primeiro de tudo, não estava sofrendo de amor, mas estava frustrada por não conseguir me relacionar. Logo, minha estratégia estava fracassando. Mas para além disso, a questão é que escolher se esconder das experiências da vida é escolher ficar estagnada. O que a Viviane Mosé fala sobre o sofrimento esticar a gente para caber mais dentro da gente é verdade.
Todo o sofrimento que recaiu sobre mim como consequência de me voluntariar a vivenciar situações novas me expandiu. O que passei nos EUA me ensinou tanto, assim como meus relacionamentos dos últimos dez anos me ensinaram, minhas experiências profissionais, começos e fins de amizades, as mudanças de casa, e todas as decisões difíceis que me trouxeram perdas e ganhos. Existir é isso. Não é ser feliz o tempo todo. É passar por tudo quanto a vida proporciona de peito aberto para o que faz sorrir e também para o que faz chorar.
Todo sofrimento, por maior que seja, é passageiro
Quando me mudei para o Rio de Janeiro em 2013, fui guiada por aquela paixão que senti pela primeira vez em janeiro de 2012 e todas as vezes que pisei o pé na cidade maravilhosa naquele ano. Ser moradora da minha cidade favorita na face da terra era uma alegria imensa, mas era uma experiência repleta de desafios e, consequentemente, sofrimento.
Tive que aprender muitas coisas novas para sobreviver na nova cidade que eu amava, mas que era completamente diferente de tudo que já tinha vivenciado até então. Os ambientes de trabalho tinham outras regras, minha situação financeira era mais instável, tive que fazer novos amigos, descobrir lugares para frequentar e, pela primeira vez na minha vida, tive que dividir quarto e, o pior de tudo, com estranhos.
Por mais difícil que tenha sido em diversos momentos, não mudaria nada. Porque tudo o que foi desagradável da minha experiência passou e o que ficou foram as lembranças felizes e cômicas e os aprendizados que vou levar para toda a vida.
Enquanto dividia quarto com uma maluca que fumava no quarto de madrugada e deixava a privada melada de cocô, sentia muita raiva e tinha a impressão de que aquilo duraria para sempre. Simplesmente, não conseguia ver saída. Mas aí ela se mudou e depois eu precisei me mudar e achei que não encontraria um lugar, mas achei e morei com outras pessoas e fiquei de saco cheio e aí surgiu outro apartamento e também não era tão legal, mas consegui encontrar um lugar só para mim e era tão gostoso ter a minha casa pela primeira vez na vida.
Onde quero chegar com tudo isso é que acho que vale a pena viver em movimento, fazendo o esforço de se desafiar sempre um pouco mais e buscar experiências que vão ser mais recompensadoras sem evitar o sofrimento que elas podem trazer. Porque o sofrimento, assim como a vida, uma hora passa, especialmente se a gente o aceita e se movimenta, e é melhor encará-lo de frente que gastar nossa energia em fuga.
Talvez nossas três últimas aulas tenham sido um pouco repetitivas. Enquanto escrevi cada edição fiquei com a sensação de escrevi coisas muito parecidas, mas também senti que elas tinham enfoques diferentes, porque caminham juntas, mas não são a mesma coisa.
Bom, por hoje é só. Nem acredito que já estamos na metade do curso. O sofrimento de escrever tudo isso e ficar insegura com o que vão pensar e se vou conseguir me expressar como quero está mais perto de acabar hahahaha.